
O Papel da Resiliência na Proteção da Saúde Mental e Física
O estresse pode ser positivo em situações pontuais, ajudando o corpo a reagir a desafios. Porém, quando se torna frequente, transforma-se em estresse crônico, caracterizado por uma resposta fisiológica contínua a fatores estressores prolongados. Esse tipo de estresse pode resultar de exposições diárias a pequenas tensões ou de eventos graves recorrentes, como ocorre com profissionais de emergência.
Com o tempo, o corpo e a mente adoecem se não houver pausa, apoio ou resiliência suficiente e as causas mais comuns incluem problemas financeiros, doenças crônicas e conflitos no trabalho ou nos estudos.
A resiliência tem sido compreendida, atualmente, como um fenômeno complexo e multidimensional, construído a partir de diversos fatores ao longo do tempo. Mais do que uma característica inata, ela é um processo dinâmico e adaptável, que envolve dimensões pessoais, sociais e ambientais. Desempenha um papel essencial na redução dos efeitos do estresse crônico, capaz de gerar sérios prejuízos à saúde física e mental. Ao desenvolver resiliência, o indivíduo adquire recursos internos e externos que favorecem o enfrentamento das adversidades, diminuindo as reações negativas diante de situações estressoras contínuas.
Embora não elimine o estresse, a resiliência modifica a forma como corpo e mente respondem a ele, facilitando a recuperação e protegendo contra consequências nocivas, como ansiedade, depressão e doenças cardiovasculares. Dessa forma, fortalecer a resiliência é um passo essencial para manter o equilíbrio e o bem-estar em contextos de estresse prolongado.

Os estudos atuais mostram que o fortalecimento das habilidades socioemocionais é essencial para o desenvolvimento infantil e o sucesso escolar. Essas habilidades envolvem o reconhecimento e a compreensão das próprias emoções, a percepção das emoções dos outros e, principalmente, o manejo adequado dessas emoções.
Segundo Daniel Goleman (1995), precursor do conceito de Inteligência Emocional, o domínio das emoções é tão importante quanto o desenvolvimento cognitivo, pois influencia diretamente a forma como aprendemos, nos relacionamos e tomamos decisões.
Reconhecer, Compreender e Agir
Quando a criança aprende a identificar o que sente e a agir de forma socialmente apropriada — por exemplo, controlando a raiva ou a frustração — ela desenvolve comportamentos mais equilibrados e melhora a convivência com colegas e professores. Essa capacidade de autorregulação emocional é destacada por Susan Denham (2006) como um dos pilares do desenvolvimento socioemocional na infância, impactando positivamente a adaptação escolar e o comportamento social.
Ao compreender suas emoções e as dos outros, a criança também amplia a empatia e a capacidade de resolver conflitos de forma construtiva, substituindo comportamentos impulsivos por atitudes de respeito e colaboração.
Emoções e Desempenho Acadêmico
As habilidades socioemocionais estão diretamente ligadas ao desempenho escolar. Crianças que aprendem a lidar com o medo, a ansiedade e a frustração conseguem manter o foco e acessar melhor seus conhecimentos em momentos de pressão, como em avaliações.
De acordo com Elias et al. (1997), programas de aprendizagem socioemocional contribuem não apenas para reduzir comportamentos problemáticos, mas também para aumentar o engajamento e a motivação para aprender. Ou seja, a inteligência emocional torna-se uma aliada do sucesso acadêmico e da construção de uma aprendizagem significativa.
Educação Emocional: um compromisso coletivo
Investir em educação emocional desde a infância é investir em uma formação integral. Quando escola e família atuam juntas nesse processo, criam um ambiente seguro e acolhedor, onde a criança aprende não apenas conteúdos acadêmicos, mas também valores humanos fundamentais para o convívio social, o bem-estar e o desenvolvimento saudável.
Modelos como o proposto pela CASEL – Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning (2013) reforçam a importância de integrar as competências socioemocionais ao currículo escolar, promovendo o desenvolvimento de cinco áreas centrais:
- Autoconhecimento
- Autorregulação
- Consciência social
- Habilidades de relacionamento
- Tomada de decisão responsável de decisão responsável
Essas dimensões ajudam a preparar as crianças para lidar com os desafios da vida com empatia, equilíbrio e responsabilidade — competências cada vez mais valorizadas no mundo contemporâneo.
Referências para Aprofundamento
Goleman, D. (1995). Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva.
Denham, S. A. (2006). Social–Emotional Competence as Support for School Readiness: What is it and how do we assess it? Early Education and Development, 17(1), 57–89.
Elias, M. J., Zins, J. E., Weissberg, R. P., et al. (1997). Promoting Social and Emotional Learning: Guidelines for Educators. Alexandria, VA: ASCD.
CASEL (2013). Effective Social and Emotional Learning Programs: Preschool and Elementary School Edition. Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning.
Neuromodulação Não-Invasiva (TDCS) no tratamento da fibromialgia: ciência e esperança no alívio da dor

A fibromialgia é uma síndrome complexa, caracterizada por dor crônica generalizada, fadiga, distúrbios do sono e alterações cognitivas. Estudos em neurociência apontam que a dor fibromiálgica está relacionada à disfunção dos mecanismos centrais de modulação da dor, ou seja, o cérebro passa a interpretar estímulos comuns como dolorosos — um fenômeno chamado sensibilização central.
A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS) surge como uma alternativa promissora, segura e não-invasiva para o manejo desses sintomas. A técnica aplica correntes elétricas de baixa intensidade (0,5 –2 mA) sobre áreas específicas do cérebro, modulando sua excitabilidade e promovendo reequilíbrio funcional.
Diversos ensaios clínicos e meta-análises têm demonstrado que o TDCS:
- Reduz significativamente a intensidade da dor crônica;
- Melhora funções cognitivas e qualidade do sono;
- Diminui sintomas de fadiga e depressão;
- Potencializa resultados quando combinado com terapia física e psicológica;
Além disso, o TDCS apresenta baixo risco de efeitos adversos, sendo bem tolerado por pacientes, inclusive em protocolos repetitivos de longo prazo.
Em resumo, a neuromodulação cerebral com TDCS oferece uma abordagem inovadora, humanizada e baseada em evidências para o tratamento da fibromialgia — ampliando as possibilidades de controle da dor e de recuperação da qualidade de vida.
Referências para Aprofundamento
Nitsche, M. A., & Paulus, W. (2011). Transcranial direct current stimulation—update 2011. Restorative Neurology and Neuroscience, 29(6), 463–492.
Fregni, F., et al. (2021). Transcranial Direct Current Stimulation (tDCS) for the Treatment of Fibromyalgia: A Systematic Review and Meta-Analysis. Brain Stimulation, 14(2), 223–231.
Albuquerque, A. C. P. et al. (2023). Efeitos da estimulação transcraniana por corrente contínua na dor e qualidade de vida de pacientes com fibromialgia: revisão sistemática. Revista Dor, 24(1), 45–54.
Villamar, M. F., et al. (2020). Repetitive sessions of tDCS for fibromyalgia: sustained pain relief and functional improvement. The Journal of Pain, 21(3–4), 317–326.
Brighina, F. et al. (2019). Modulation of pain perception in fibromyalgia by transcranial direct current stimulation of the motor cortex. Journal of Neural Transmission, 126(9), 1217–1225.
